Wednesday, March 29, 2017
O fim da minha ressaca literária ou apenas uma trégua
O fim da minha ressaca literária ou apenas uma trégua
Há algumas postagens atrás comentei sobre o fato de eu não estar conseguindo ler mais nada além algumas histórias em quadrinhos de temática mais adulta, disse que até andei comprando uns livros, mas deixando-os mofar na estante da sala de casa. Acredito que os tenha comprado mais como uma forma de consumismo sem sentido, com o intuito de aplacar um pouco minha depressão, ou simplesmente para poder dizer, "se fulano tem, eu também quero ter", já que vivo me sentindo sempre inferior a todo mundo, em todos os sentidos, o tempo todo. O que sei é que, dos ralos objetivos que costumo traçar vez sim, vez não para minha vida, voltar a ler é um deles e eu preciso começar de algum ponto, por isso decidi me propor um desafio e também usar o blog para algo mais útil do que ficar chorando pelo Levi, pelo Ricardo, pelo Paulinho e tantos outros que já passaram pela minha vida e hoje, por escolha deles não fazem mais parte dela.
Não sou nenhum exímio crítico literário e nem tenho pretensão de o ser, externo minhas opiniões sobre alguma obra, seja um livro, filme ou história em quadrinhos de forma leiga e nada profissional, mas gosto de comentar, do meu jeito, sobre as impressões que tenho das coisas que experimento, vivencio. Vou começar minhas críticas amadoras então, falando de duas obras que li recentemente, uma por indicação de um colega de trabalho e a outra porque, num dia desses, a toa numa livraria aqui da cidade, olhando livros aleatoriamente e lendo seus resumos, identifiquei-me em partes com o personagem central e decidi comprá-lo, num ato totalmente espontâneo e despretensioso.
Embora ainda não tenha lido o já citado Astronauta (pretendo fazê-lo assim que possível), o que me impede de comparar essa versão do Chico Bento com os outros livros da coleção, logo de cara pude perceber algo que me agradou demais e que, pesquisando por cima, pude constatar estra presente também nas outras histórias desse projeto: a liberdade criativa que Maurício de Sousa deu aos artistas, fazendo com que as histórias se tornassem muito autorais.
Editora: Panini Comics Edição especial
Autor: Gustavo Duarte (roteiro e desenhos).
Preço: R$ 19,90 (capa cartonada) e R$ 29,90 (capa dura)
Número de páginas: 80
Data de lançamento: Agosto de 2013
Sinopse
Tinha tudo para ser mais uma noite tranquila na Vila Abobrinha. Mas Chico Bento, o seu primo Zé Lelé, o porco Torresmo e a galinha Giserda acabam abduzidos por alienígenas que têm planos sinistros.
Estou em férias do escritório e da universidade e, consequentemente, sem absolutamente nada de útil ou divertido para fazer da vida e ocupar esse meu tempo de ócio e, embora eu seja a simpatia em forma de ser humano, a verdade é que não tenho amigos. Para os poucos que se dizem meus amigos, a sensação que tenho é que faço pouca ou praticamente nenhuma falta. Recebo muito raramente um convite aqui, outro ali, mas não me sinto realmente necessário na vida dessas pessoas, são aqueles casos os quais, eu aceitando tais convites ou não, em nada mudará a vida do outro, ela não ficará mais triste ou com menos graça, e confesso egoisticamente que é isso que eu gostaria que acontecesse. Mas voltando a falar do livro: para aliviar meu tédio, no dia 28 de dezembro do ano passado estava caminhando e, revoltado com muitas coisas que andam me acontecendo, resolvi entrar em uma livraria famosa daqui da cidade de Bauru, disposto a comprar um livro, fosse ele qual fosse (desde que o assunto me cativasse, é claro), para retomar meu gosto pelas letras. Odeio a literatura do meu próprio país, não importa o quanto digam que ela é culta e rica, ler romances nacionais sempre me causaram um certo asco, um cansaço extremo, talvez isso se tenha dado por conta de ter sido obrigado a ler tantos no ginasial e colegial. Entrei na livraria e fui diretamente à estante de romances internacionais. De início pensei em adquirir um desses títulos famosos, comentados na mídia, a coleção dos Jogos Vorazes, quem sabe, ou talvez alguma coisa curta do Stephen King mesmo, se é que existe algum romance dele curto, mas eu sempre fui muito preso aos mesmos autores, sempre segui a moda do momento e portanto achei melhor variar um pouco, buscar algo do qual nunca tenha ouvido falar, um escritor desconhecido pra mim. Comecei a correr os olhos pelas estantes, olhando os títulos, as capas, lendo uma ou outra sinopse, muitas me pareceram bem interessantes. Por um segundo pude sentir o quanto de tempo andei desperdiçando não lendo nada. Uma pergunta pra quem lê a mais tempo que eu: é chamado de "sinopse" mesmo aquele resumo do romance que sempre fica na contracapa dos livros ou isso só se aplica aos filmes? Aguardo respostas.
A trégua é um romance publicado originalmente em 1960, escrito por Mario Benedetti, nascido em 1920 em Paso de los Toros, Uruguai. O livro conta a história de Martín Santomé, descrito pelo autor como "um homem maduro, de muita bondade, meio apegado, mas inteligente".
Prestes a completar 50 anos, viúvo há mais de vinte, Santomé mora com os três filhos. Não se relaciona bem com nenhum deles, tem pouco amigos e mantém uma rotina cinzenta, sem sobressaltos (tirando a parte dos filhos, foi esse o ponto do resumo da obra que mais me chamou a atenção, por motivos de identificação). O livro é escrito em formato de diário e nesse diário ele conta os dias que faltam para sua aposentadoria; mas não tem ideia do que fará assim que se livrar do trabalho massante.
Porém, seu destino muda quando ele conhece Laura Avellaneda, uma jovem discreta e tímida contratada para ser sua subalterna. Com ela, Santomé voltará a conhecer o amor, numa luminosa trégua para uma vida até então taciturna e opaca.
O livro é relativamente curto, 180 páginas, comprei-o no sábado, 28 de dezembro, e terminei de ler todo ele na tarde de 1º de janeiro. Uma das primeiras coisas que me cativou na leitura foi o fato do romance ser escrito em primeira pessoa, no formato de um diário, sem longos capítulos, nas paginas ele apenas narra seus dias, de forma curta e direta, alguns em duas páginas, outros em apenas duas linhas, achei isso "inovador", talvez porque até hoje não tenha lido nada com um formato parecido. Em minha opinião particular isso tornou a leitura bem leve.
Pra minha surpresa fiquei bastante preso ao livro, bom, pelo menos na primeira metade dele, já explico isso. Cheguei em casa, tomei um banho, sentei-me no sofá e quando vi, já haviam se passado quase três horas, eu já havia devorado mais de setenta páginas e ainda por cima fazendo algo que nunca fiz, com uma caneta marca-texto ao meu lado, grifando os trechos com os quais mais me identifiquei.
Embora eu tenha pesquisado e lido que esse livro é famosíssimo tanto quanto seu escritor, não achei lá grandes coisas, no geral, gostei sim, gostei bastante, senti-me bastante preso em alguns momentos, publicando meus trechos favoritos nas redes sociais, como se alguém fosse dar importância a isso, mas como disse acima, o caso é que a leitura só me foi 100% agradável até a primeira metade da trama.
Antes de conhecer Avellaneda, Santomé fala muito de si mesmo, refletindo não apenas sobre si e sua solidão, seus medos e temores, mas sobre a vida de um modo geral. Durante toda essa narrativa praticamente pintei as páginas com o amarelo da caneta luminosa, desatacando uma passagem atrás de outra. Contudo (e eu acho que já esperava isso, devido ao meu estado emocional atual), comecei a achar a leitura bastante monótona e cansativa depois que Avellaneda entra na vida de Santomé, me comprovando algo que ainda hoje tenho certa vergonha de admitir: em se tratando de romance e amor, a felicidade dos outros me deixa muito infeliz, uma inveja maligna e destrutiva mesmo.
O livro não se tornou menos bem escrito ou interessante, mas mais chato, pois grande parte dos dias de Santomé passaram a se focar em Avellaneda e em seus sentimentos por ela, uma coisa piegas, clichê e antiga (lógico que tenho convicção, meus sentimentos pessoais com certeza interferem numa análise justa do livro, talvez isso melhore com o tempo). Tudo o que eu estava gostando até a primeira metade do livro foi desaparecendo a medida em que Santomé e Avellaneda se aproximavam mais e assumiam seu amor um pelo outro. Daí em diante o diário do protagonista se transformou um pouco (digo um pouco, porque ainda assim manteve um pouco da introspecção e da autoanálise que tanto me conquistou), passando Santomé a narrar seu amor pela moçoila, fazendo planos para conquistá-la.
Todavia é inegável de minha parte dizer que o final me surpreendeu, embora não muito diferente de várias coisas que já li e assisti, admito que mexeu comigo, não cheguei a chorar ou me emocionar profundamente, talvez justamente pelo motivo que já citei, essa coisa de amor dramático, hoje posso comprovar, é rotina.
Apesar de todas essas minhas reclamações, as quais admito novamente são de ordem puramente pessoal e sentimental, termino essa minha tosca análise dizendo que acho que escolhi um ótimo livro pra recomeçar. Pretendo algum dia relê-lo, com menos rancor e mágoa no coração e ver se tenho sensações diferentes, mas sensações ruins a parte, A trégua é um excelente livro e, acima do fato de eu ter gostado dele ou não, estou feliz por ter conseguido ler um livro inteiro, do começo ao fim e em tão pouco tempo.. É isso.
Sobre o Autor:
Nascido e ainda morando na cidade de Bauru, interior do Estado de São Paulo, sou estudante de Design e trabalho como designer e web designer, áreas pelas quais tenho muito interesse. Amo cinema, quadrinhos e boa música. |
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